Saturday, February 10, 2007

GUINÉ-CONACRY: A QUESTÃO DA DESINFORMAÇÃO

Por: Fernando Casimiro (Didinho)
didinho@sapo.pt
10.02.2007
As manifestações e as mortes voltaram à ordem do dia na Guiné-Conacry.
Na verdade, o processo reivindicativo estava apenas suspenso por forma a dar oportunidade ao general ditador Lansana Conté de responder às propostas apresentadas pelos sindicatos e acordadas a 27 de Janeiro último.
Se a questão da Guiné-Conacry é um assunto que deve ser resolvido pelos irmãos de Conacry, não deixa de ser verdade que a Guiné-Bissau assume protagonismos nesta matéria com a alegada participação das suas forças militares a mando do general ditador Nino Vieira ao pedido formulado pelo seu vizinho, sócio e amigo de Conacry, Lansana Conté.
Um envolvimento negado, como era esperado, mas largamente noticiado e sustentado por órgãos de comunicação social um pouco por todo o mundo.
O povo da Guiné-Conacry não gostou de saber que da Guiné-Bissau tinham sido enviadas tropas em apoio do seu aflito presidente, chegando essas tropas a matar manifestantes em revolta.
Desta constatação têm surgido apelos à resistência, à luta contra os mercenários, sendo que se tem conotado o próprio presidente Lansana Conté como oriundo e defensor de interesses da Guiné-Bissau, o que não corresponde minimamente à verdade.
É precisamente para esta questão da desinformação que faço esta reflexão no sentido de alertar os irmãos de Conacry para a injustiça e incoerência na atribuição de um juízo de valor convidativo ao virar de costas entre 2 povos irmãos e mártires da ditadura consequente das governações de cada um dos nossos países.
Compreende-se a indignação do povo da Guiné-Conacry que no entanto deveria lembrar-se da mesma situação aquando da guerra de 98/99 na Guiné-Bissau em que Nino Vieira chamou igualmente tropas da Guiné-Conacry e do Senegal para massacrarem filhos da Guiné-Bissau na sua própria terra.
O povo da Guiné-Bissau soube tirar as devidas ilações dessa intervenção militar da Guiné-Conacry, não tendo nunca, confundido a colaboração entre ditadores com o relacionamento entre os irmãos de Bissau e Conacry.
O povo da Guiné-Bissau nunca foi hostil para com o povo da Guiné-Conacry em consequência dessa intervenção.
Hoje não é isso que está a acontecer se tivermos em conta algumas declarações que têm sido emitidas pelas comunidades da Guiné-Conacry na diáspora que se esquecem ou desconhecem a realidade de um passado recente idêntico aos dias de hoje.
Responsabilizar e condenar Nino Vieira é aceitável bem como denunciar, de forma fundamentada, o envolvimento militar da Guiné-Bissau nas operações de apoio ao presidente Lansana Conté.
O que não se deve confundir é o posicionamento de Nino Vieira face à crise na Guiné-Conacry que é uma posição pessoal e não uma manifestação declarada da República e, por conseguinte, do povo da Guiné-Bissau.
Entre os povos irmãos de Bissau e Conacry numa referência global destas duas "Guinés" deve existir uma corrente de solidariedade no sentido do derrube das ditaduras vigentes em ambos os países e nunca a tendência inflamatória de expandir os pressupostos reivindicativos para além do aceitável e que neste caso seria o voltar de costas entre os nossos povos irmãos, o que poderia ter consequências imprevisíveis para a região.

Residência do Presidente bissauguineense demolida em Conakry
Conakry, Guiné (PANA) - Uma linda casa, presumivelmente pertencente ao chefe do Estado bissauguineense, João Bernado Vieira, em Taouya, no alto subúrbio de Conakry, a capital guineense, foi devastada sábado por manifestantes furiosos, como forma de se insurgir contra a nomeação de Eugène Camara para o cargo de primeiro-ministro, chefe do governo guinense, soube a PANA junto de testemunhas oculares.A casa de Vieira, situada no concelho de Ratoma, à beira-mar, suscitava muita curiosidade, de acordo com as testemunhas que não explicaram a relação entre esta casa e os actuais acontecimentos na Guiné Conakry.Além disto, prosseguiram, dezenas de jovens igualmente furiosos destruiram a sede do Partido da Unidade e Progresso (PUP, no poder) em Kankan, a cerca de 600 quilómetros da capital, tendo também incendiado a prefeitura, devastado a cadeia e queimado vivo um soldado.Outros manifestantes superexcitados demoliram, um pouco mais cedo em N'Zérékoré, a 900 quilómetros no sul do país, a residência privada de Eugène Camara, menos de 24 horas depois da sua nomeação para o cargo de primeiro- ministro pelo Presidente Conté.Os revoltosos pilharam igualmente um supermercado e uma loja de electrodomésticos pertencente a empresários libaneses na Mineira, subúrbio de Conakry, onde os bairros de Matoto, Taouya, Hamdallaye estão a ferver.Os manifestantes reclamam doravante pela partida do Presidente Conté, no poder há 23 anos, estimando que ele violou os termos do acordo global, assinou a 27 de Janeiro último no final de 18 dias de greve geral entre o governo e a Inter-Central Sindical.Nos termos deste acordo, o chefe do Estado devia nomear um primeiro- ministro, chefe de governo, "de largo consenso, íntegro e competente" e que nunca gerisse os Assuntos públicos no país.
Fonte: PanapressConakry - 10/02/2007

3 comments:

victor simoes said...

É uma pena, povos irmãos estarem de costas voltadas. Esse voltar de costas, serve perfeitamente o objectivo dos governos da Guiné-Conacri e da Guiné-Bissau, quanto maior a confusão instalada, mais argumentos para os respectivos regimes ditatoriais se agarrarem ao poder, mais motivos para justificarem as suas imposições, aínda que ilegítimas.
O Povo está farto de guerra, o povo quer é a Paz! Faço votos para que os povos irmãos se unam num objectivo de juntos acabarem com as respectivas ditaduras opressivas.

Anonymous said...

Todos sobreviventes de CONACRY, políticos, intelectuais, familiares, historiadores e interessados deveriam criar uma base de dados para reconstituir toda dinâmica que remonta dos anos 50 até aos anos 60.

Há uma tendência de minimizarem o nacionalismo oriundo da Guinée Conacry que envolveu a criação, fundação de partidos e movimentos de libertações.
O papel relevante da mobilização e outras actividades com repercussão internacional em prol da libertação pelos movimentos de libertação nos territórios sob dominação Portuguesa.
Os historiadores contemporâneos ou todos os intervenientes, estudiosos e interessados na importância da génese do nacionalismo libertário supostamente honestos e sérios deveriam congregar esforços para reconstituir toda essa dinâmica.
Deveria ser criado um banco de dados onde seriam não só lançados dados úteis como doações de espólios.
Esta cooperação permitiria uma credibilização e reposição valorização de uma das etapas tão nobres do nacionalismo tão genuíno como as outras.
Deveria haver uma preocupação de interligar todos centros de pesquisa histórica para restituir a verdadeira grandeza de Conacry reconstituindo a sua génese.
A s vozes dos nacionalistas se vão apagando e a história continua a não testemunhar a verdadeira dinâmica.
Será que o MPLA como força política acompanhará todas as consequências da globalização?
Todos esses processos de desenvolvimento serão compatíveis com a essência nuclear vigente do MPLA de hoje?
Afinal o que é que separa os objectivos do MPLA de hoje em relação ao MPLA de Conacry?

victor simoes said...

Uma rectificação, onde refere MPLA, deveria querer dizer PAIGC!
O PAIGC, é o partido que governa na Guiné-Bissau e não o MPLA.

Cump.